Vencedores nunca
desistem
António Marques da Silva (ex.alferes 3ª Cª)
Imersos em hipocrisia, propaganda política
enganadora, nepotismo, tráfico de influências e corrupção, por vezes até a
vontade de escrever falece. É uma sensação de impotência. Quantos de nós não gostariam
de publicitar os seus registos, as suas memórias de uma vida, de proclamar as
suas verdades? Para muitos (nos quais me incluo) ainda é cedo, o tempo ainda
não está maduro, há-que pôr na mesa o pão nosso de cada dia. E isto pesa e decepciona.
Contudo, celebremos a vida que é só uma e efémera.
Realiza-se, no próximo dia 11 de Junho, em Ponte de
Lima o VIII Encontro dos ex-militares do Batalhão de Caçadores n.º 4513, que
prestou serviço na Guiné desde o dia 21 de Março de 1973 até Agosto/Setembro de
1974. Como acontecia na Guiné em que, dia a dia, riscávamos felizes mais um
degrau descendente no desenho da escada que tínhamos pendurado no quarto, a
caminho do fim da comissão, também eu conto os dias que faltam para mais um
reencontro.
Românticos, saudosistas? Talvez sejamos tudo isso,
mas, sobretudo, somos sobreviventes que passaram por vicissitudes pessoais,
familiares e profissionais diversas, ao longo destes 42 anos. Resistentes que
amam a vida e choram com a partida de um companheiro, que desejam um futuro
melhor para os seus netos, mas que não enjeitam o passado e celebram com
entusiasmo e alegria, redobrada com o passar dos anos, o facto de estarem vivos
e as velhas amizades e cumplicidades.
Como escreveu, de forma sublime, Jaime Ramos, o
grande dinamizador do blogue
(batcac4513.blogspot.com) e dos nosssos encontros: “Caminharemos mais debilitados
pelas “Baixas” que temos sofrido. Mas caminharemos sempre com o mesmo empenho
em direcção ao nosso “objectivo”. Seria assim que o “comandante” diria, será assim
que iremos ao encontro de “velhos companheiros de armas” para relembrar
“histórias”, “medos”, “alegrias”, “tristezas” e muitas amizades criadas em
ambiente de “guerra”. Na impossibilidade
de transportarmos as “baixas”, prosseguiremos em honra deles e por eles
e prestar-lhe-emos todos juntos a homenagem mais do que merecida, relembrando e
revivendo um período da nossa juventude. Vamos festejar a vida dos que chegaram
até aqui, vamos concerteza fazer o que fariam todos os que partiram».
Não, nós não comemoramos heroísmos bacocos, nem
passadismos coloniais. Nós celebramos a benesse de estarmos vivos e
relembramos, com saudade e grande amizade, aqueles de quem a lei da vida nos
apartou. Muitos não comparecem, por variadas razões, a vida para muitos terá
sido madrasta, outros por simples desinteresse ou porque nem sequer têm
conhecimento, mas estou certo de que, lá bem no fundo, estão connosco. Quantas
noites eles não sonharão (como nós!) com aqueles velhos tempos?
Convosco, éramos todos muito novos, aprendi que dos
frouxos não reza a história; o valor do assumir das responsabilidades, do não
chutar para baixo; que os “nossos” homens são pessoas e não números; e que o
nome, a palavra dada e a honra valem muito mais do que o dinheiro. E isto é tanto que vale a pena celebrar.
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