quarta-feira, 11 de maio de 2016

MENSAGEM

Vencedores nunca desistem

António Marques da Silva (ex.alferes 3ª Cª) 
Imersos em hipocrisia, propaganda política enganadora, nepotismo, tráfico de influências e corrupção, por vezes até a vontade de escrever falece. É uma sensação de impotência. Quantos de nós não gostariam de publicitar os seus registos, as suas memórias de uma vida, de proclamar as suas verdades? Para muitos (nos quais me incluo) ainda é cedo, o tempo ainda não está maduro, há-que pôr na mesa o pão nosso de cada dia. E isto pesa e decepciona. Contudo, celebremos a vida que é só uma e efémera.
Realiza-se, no próximo dia 11 de Junho, em Ponte de Lima o VIII Encontro dos ex-militares do Batalhão de Caçadores n.º 4513, que prestou serviço na Guiné desde o dia 21 de Março de 1973 até Agosto/Setembro de 1974. Como acontecia na Guiné em que, dia a dia, riscávamos felizes mais um degrau descendente no desenho da escada que tínhamos pendurado no quarto, a caminho do fim da comissão, também eu conto os dias que faltam para mais um reencontro.
Românticos, saudosistas? Talvez sejamos tudo isso, mas, sobretudo, somos sobreviventes que passaram por vicissitudes pessoais, familiares e profissionais diversas, ao longo destes 42 anos. Resistentes que amam a vida e choram com a partida de um companheiro, que desejam um futuro melhor para os seus netos, mas que não enjeitam o passado e celebram com entusiasmo e alegria, redobrada com o passar dos anos, o facto de estarem vivos e as velhas amizades e cumplicidades.
Como escreveu, de forma sublime, Jaime Ramos, o grande dinamizador do blogue  (batcac4513.blogspot.com) e dos nosssos encontros: “Caminharemos mais debilitados pelas “Baixas” que temos sofrido. Mas caminharemos sempre com o mesmo empenho em direcção ao nosso “objectivo”. Seria assim que o “comandante” diria, será assim que iremos ao encontro de “velhos companheiros de armas” para relembrar “histórias”, “medos”, “alegrias”, “tristezas” e muitas amizades criadas em ambiente de “guerra”. Na impossibilidade  de transportarmos as “baixas”, prosseguiremos em honra deles e por eles e prestar-lhe-emos todos juntos a homenagem mais do que merecida, relembrando e revivendo um período da nossa juventude. Vamos festejar a vida dos que chegaram até aqui, vamos concerteza fazer o que fariam todos os que partiram».
Não, nós não comemoramos heroísmos bacocos, nem passadismos coloniais. Nós celebramos a benesse de estarmos vivos e relembramos, com saudade e grande amizade, aqueles de quem a lei da vida nos apartou. Muitos não comparecem, por variadas razões, a vida para muitos terá sido madrasta, outros por simples desinteresse ou porque nem sequer têm conhecimento, mas estou certo de que, lá bem no fundo, estão connosco. Quantas noites eles não sonharão (como nós!) com aqueles velhos tempos?
Convosco, éramos todos muito novos, aprendi que dos frouxos não reza a história; o valor do assumir das responsabilidades, do não chutar para baixo; que os “nossos” homens são pessoas e não números; e que o nome, a palavra dada e a honra valem muito mais do que o dinheiro.  E isto é tanto que vale a pena celebrar.


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