16 de Março de 1973
Embarque para a Guiné
Estava repleto o navio
e os militares amontoavam-se nos locais mais improváveis na ânsia de serem
vistos pela multidão de familiares (os que lá os tinham) que se despediam a
partir do cais. Era uma cena já por todos conhecida, militares e famílias, que
ao longo dos anos foram acompanhando pela televisão e pelos jornais.
No que me toca, e como
não tinha ninguém a acompanhar, mais não fiz do que dar o lugar nas “filas” da
frente aos que tinham essa possibilidade, retirei-me para a retaguarda,
isolei-me intencionalmente e comecei a sentir o barco a inclinar com o peso de
todos os que queriam estar na “borda” e a despedirem-se dos seus familiares, os
lenços a acenar e o barco a apitar que se apoderou de mim uma fria sensação de
uma realidade de ida sem a certeza da volta. Chorei, lembrei-me de todos os que
me eram queridos.
E perante tanta
insistência das lágrimas recolhi ao camarote que me estava destinado e lá
continuei a “carpir” mágoas que só foram minimizadas com o “regresso” dos meus
colegas a quem me competia dar um sinal de “fortaleza” para minimizar a
tristeza que se apoderou em cada um de nós. Estava ali a começar uma odisseia,
uma aventura no desconhecido, mas que todos sabíamos que haveria de ter um fim,
só podia ser o regresso, não sabíamos era como. Afinal, estávamos a partir. E
não tinham partido milhares de outros antes de mim? Voltei à realidade. Com dois ou três roncos, o navio
fez-se lentamente ao meio do Tejo e desceu para a foz. Cada vez eram mais imperceptíveis
os acenos no Cais da Rocha. (...)
Começava uma aventura que para muitos, tínhamos
consciência disso, não teria regresso……
Aproveito para enviar a todos os ex. Companheiros que
lerem estas minhas “recordações” votos de muita saúde e vamo-nos “vendo” por
Aí, e como nunca esqueço os AMIGOS, aproveito par relembrar os que “partiram”,
deixando as “tropas” mais enfraquecidas.
Arranjo do texto de Jaime Ramos
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