16 de Março de 1973
Embarque para a Guiné
Procurando dizer as mesmas coisas, mas de forma diferente pois torna-se impossível relembrar todos os pormenores desse dia.
48 Anos depois a minha e a nossa memória não sendo a mesma, tenho a certeza que “todos” os passos continuam “registados” como se á dias se passasse.
O Navio estava repleto e os militares amontoavam-se nos locais mais improváveis na expectativa de um último Adeus a familiares e amigos que se despediam a partir do Cais. Era uma cena já por todos vistos na televisão.
Como não tinha ninguém a acompanhar, mais não fiz do que dar o lugar nas “filas” da frente aos que tinham essa possibilidade, retirei-me para a retaguarda, isolei-me intencionalmente e comecei a sentir o barco a inclinar com o peso de todos os que queriam estar na “borda” e a despedirem-se dos seus familiares, os lenços a acenar e o barco a apitar que se apoderou de mim uma fria sensação de uma realidade de ida sem a certeza da volta. Chorei, lembrei-me de todos os que me eram queridos.
E perante tanta insistência das lágrimas recolhi ao camarote que me estava destinado e lá continuei a “carpir” mágoas que só foram minimizadas com o “regresso” dos meus colegas a quem me competia dar um sinal de “fortaleza” para minimizar a tristeza que se apoderou em cada um de nós. Estava ali a começar uma aventura no desconhecido, mas que todos sabíamos que haveria de ter um fim, mas não sabíamos qual. Todos partimos com a ideia de regressar, não sabíamos como. Estávamos a partir como tantos outros antes de nós, fomos na esperança de regressar, infelizmente nem todos o fizeram. Voltei à realidade. Com dois ou três roncos, o navio fez-se lentamente ao meio do Tejo e desceu para a foz. Cada vez eram mais impercetíveis os acenos no Cais da Rocha. (...)
Começava uma aventura que para muitos, tínhamos consciência disso, não teria regresso……
Aproveito para recordar os que “partiram” lá e todos os companheiros que nos têm “abandonado” desta vida, obrigando-me a recordar com muita saudade aqueles que Deus quis “desviar” dos nossos destinos
Aproveito para enviar a todos os ex. Companheiros que lerem estas minhas “recordações” votos de muita saúde e vamo-nos “vendo” por Aí
Com um enorme Abraço
Jaime Ramos
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