sexta-feira, 8 de novembro de 2019

A idade vai passando…


A idade vai passando…

Olha estas árvores, mais belas
Do que as árvores moças, mais amigas,
Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas...

O homem, a fera e o inseto, à sombra delas
Vivem, livres da fome e das fadigas:
E em seus galhos abrigam-se as cantigas
E os amores das aves tagarelas.

Não choremos, amigo a mocidade!
Envelheçamos rindo. Envelheçamos.
 Olavo Bilac, poeta brasileiro (1865-1918).

            Sim envelheçamos calmamente em comunhão com a natureza, onde ela ainda não foi destruída pelo homem. Por mim, já cá estão 68 e, nesse dia, plantei uma pequena oliveira no jardim do meu escritório para a olhar todos os dias, para a ver crescer e me sentir vivo e activo.  
             E, recordei que já fez um ano que deixei Macau. O balanço tem sido positivo, que o dinheiro não é tudo na vida, nem se leva para a cova, embora haja muita gente que parece pensar que sim.
            Velho? Sim, se entendermos que velho é o indivíduo de idade avançada, aquele que teve a felicidade de lá chegar, o ancião. Aquele que teve tempo de aprender com os erros próprios e, também, com os alheios e que, em tempos idos, era merecedor de respeito e que, com uma vida profissional longa, transmitia os seus conhecimentos da arte aos mais novos que nela se iniciavam. Isto nos velhos tempos em que os cabelos brancos mereciam respeito. Hoje assenta-se praça em general e a ignorância sempre foi muito atrevida. Trapo, como hoje os «economicistas» querem tratar aqueles que são jovens há mais tempo, isso nunca! Antes a morte que tal sorte.
             Penso. Sim cada vez gasto mais tempo a reflectir sobre a vida futura dos meus filhos; netos infelizmente ainda não tenho. Que sociedade esta? Para onde caminhamos? Que mais ainda nos espera? Que gentes estas que se agacham e se acomodam, indiferentes perante as injustiças e a supressão das liberdades? Que descontentes estes que, quando se manifestam, não propõem nada que mude a vida para melhor e se limitam a destruir, a vandalizar, sem nexo, bens e ideias alheios? Será que caminhamos para o niilismo? Que futuro nos espera onde tudo será digital e até a maior inteligência será artificial? Será que ainda haverá lugar, na sociedade virtual, para o sentimento, para o amor, para as emoções, ou será que, transformado em robot, o homem se verá privado dos direitos humanos mais elementares? As nuvens actuais são densas, mas não posso deixar de ter esperança em que os jovens saberão construir um Mundo melhor.
           E, perante tanta incerteza, para aqueles que, como eu, vivem a derradeira etapa, sobremaneira para os meus camaradas de armas na Guiné, termino com versos de Angelita Furtado, imortalizados na voz de Roberto Carlos: «diante do que sinto.../olhando seus cabelos tão bonitos/ beijo suas mãos e digo/meu querido, meu velho, meu amigo».

Por :
Marques da Silva
Ex.alferes miliciano 3ª Companhia

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