A
idade vai passando…
Olha
estas árvores, mais belas
Do
que as árvores moças, mais amigas,
Tanto
mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da
idade e das procelas...
O homem, a fera e
o inseto, à sombra delas
Vivem, livres da
fome e das fadigas:
E em seus galhos
abrigam-se as cantigas
E os amores das
aves tagarelas.
Não choremos,
amigo a mocidade!
Envelheçamos
rindo. Envelheçamos.
Olavo Bilac, poeta brasileiro (1865-1918).
Sim envelheçamos calmamente em comunhão com a natureza, onde ela ainda
não foi destruída pelo homem. Por mim, já cá estão 68 e, nesse dia, plantei uma
pequena oliveira no jardim do meu escritório para a olhar todos os dias, para a
ver crescer e me sentir vivo e activo.
E, recordei que já fez um ano que
deixei Macau. O balanço tem sido positivo, que o dinheiro não é tudo na vida,
nem se leva para a cova, embora haja muita gente que parece pensar que sim.
Velho? Sim, se entendermos que velho é o indivíduo de idade avançada,
aquele que teve a felicidade de lá chegar, o ancião. Aquele que teve tempo de
aprender com os erros próprios e, também, com os alheios e que, em tempos idos,
era merecedor de respeito e que, com uma vida profissional longa, transmitia os
seus conhecimentos da arte aos mais novos que nela se iniciavam. Isto nos
velhos tempos em que os cabelos brancos mereciam respeito. Hoje assenta-se
praça em general e a ignorância sempre foi muito atrevida. Trapo, como hoje os
«economicistas» querem tratar aqueles que são jovens há mais tempo, isso nunca!
Antes a morte que tal sorte.
Penso. Sim cada vez gasto mais
tempo a reflectir sobre a vida futura dos meus filhos; netos infelizmente ainda
não tenho. Que sociedade esta? Para onde caminhamos? Que mais ainda nos espera?
Que gentes estas que se agacham e se acomodam, indiferentes perante as
injustiças e a supressão das liberdades? Que descontentes estes que, quando se
manifestam, não propõem nada que mude a vida para melhor e se limitam a
destruir, a vandalizar, sem nexo, bens e ideias alheios? Será que caminhamos
para o niilismo? Que futuro nos espera onde tudo será digital e até a maior
inteligência será artificial? Será que ainda haverá lugar, na sociedade
virtual, para o sentimento, para o amor, para as emoções, ou será que, transformado
em robot, o homem se verá privado dos direitos humanos mais elementares? As
nuvens actuais são densas, mas não posso deixar de ter esperança em que os
jovens saberão construir um Mundo melhor.
E, perante tanta incerteza, para aqueles que, como eu, vivem a
derradeira etapa, sobremaneira para os meus camaradas de armas na Guiné, termino
com versos de Angelita Furtado, imortalizados na voz de Roberto Carlos: «diante do que sinto.../olhando seus cabelos
tão bonitos/ beijo suas mãos e digo/meu querido, meu velho, meu amigo».
Por :
Marques da Silva
Ex.alferes miliciano 3ª Companhia
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