António Marques da Silva
Ex. Alferes Miliciano da 3ª Companhia
do Batalhão 4513
Aldeia Formosa - Nhala - Buba
Publicado no Jornal Tribuna de Macau.
Artigo da Autoria do Companheiro Marques da Silva , desde Macau onde vive.
No regresso não vinham todos!
Vasco Lourenço, capitão de Abril e hoje presidente da
Associação 25 de Abril, escreveu um livro com o título “No regresso vinham
todos”, no qual descreve uma comissão militar na Guiné e dá conta de emoções,
de sentimentos, de medos, mas também de alegrias, de solidariedade e de
camaradagem. Desse livro que possuo e que me aguarda nas prateleiras do meu
refúgio lá na terra onde nasci (a qual antes do meu embarque já tinha –apesar
de ser uma pequena aldeia- feito o funeral a dois dos seus filhos regressados
da Guiné, antes do tempo, e em “caixas de pinho”) recordo, apesar dos 40 anos
passados, que ele é um testemunho de que a maioria dos militares, porque não
acreditavam na justeza e na sua razão de ser da guerra, viviam com a ideia fixa
do regresso, sem que isto signifique cobardia. Em, 16 de Março de 2011, no
blogue do Batalhão de Caçadores 4513, realçam-se os 38 anos da partida a bordo
do Uíge. Recordo-me, como se fosse hoje, do acenar lancinante e premonitório de
lenços brancos, por parte de familiares e amigos. E, no nosso caso, como
escreve um camarada no referido blogue: “infelizmente nem todos vieram, e
outros trouxeram marcas para o resto da vida". Aliás, apenas dois meses depois
da nossa chegada a Bissau, em 21 de Março de 1973, já éramos menos. Por isso em
Aldeia Formosa, no dia 21 de Maio desse mesmo ano, escrevi o texto a que dei o
título de “Melodia interrompida”, o qual transcrevo aqui não pelo seu valor
literário, mas apenas como testemunho:
Soldado!
Uma folha verde caída
Na primavera da vida
Uma melodia interrompida
Um pássaro sem asas
Um rio de águas paradas.
Um manequim de mãos enluvadas
Em guardas de honra.
Um fruto temporão
Carne p´ra canhão.
Calor que queima, sem chama
Um ser e não ser
Um dever, sem querer
Meio termo entre a
vida e a morte.
Entretanto, após o regresso, outros foram partindo, sem que me tenha sido possível dar-lhes um derradeiro abraço. E tenho pena!
O último a partir, em terras de França, foi o Basílio. E não foi um qualquer. Partiu um dos nossos melhores, o “meu homem da Bazuca”, um poço de força, de alegria, de coragem e de abnegação, que simboliza bem, para mim, os tempos dessa nossa juventude e a grandeza humana que, em muitos, testemunhei. Infelizmente não tive tempo de recontar com ele quantos os cabritos capturados na tabanca ou as cervejas bebidas noite adentro. As contingências da vida de emigração assim o ditaram.Por isso, este ano em Junho, se a sorte o permitir, estarei no VII Convívio do Batalhão (o primeiro a que irei estar presente), antes que seja tarde para abraçar velhos camaradas.Não, não é saudosismo do tipo “antigos combatentes”, apenas saudade da juventude, e necessidade de reviver.
Obrigado Marques da Silva em nome de todos e até breve
.
Sim, obrigado Marques da Silva.Eram este tipo de notícias que gostavamos de ver mais vezes neste blogue.
ResponderEliminar