16 de Março de 1973
Embarque para a Guiné
Procurando
dizer as mesmas coisas, mas de forma diferente pois torna-se impossível
relembrar todos os pormenores desse dia.
46 Anos
depois a minha e a nossa memória não sendo a mesma, tenho a certeza que “todos”
os passos continuam “registados” como se á dias se passassem.
O Navio
estava repleto e os militares amontoavam-se nos locais mais improváveis na
expectativa de um último Adeus a familiares e amigos que se despediam a partir
do Cais
Era uma cena
já por todos vistos na televisão.
Como não
tinha ninguém a acompanhar, mais não fiz do que dar o lugar nas “filas” da
frente aos que tinham essa possibilidade, retirei-me para a retaguarda,
isolei-me intencionalmente e comecei a sentir o barco a inclinar com o peso de
todos os que queriam estar na “borda” e a despedirem-se dos seus familiares, os
lenços a acenar e o barco a apitar que se apoderou de mim uma fria sensação de
uma realidade de ida sem a certeza da volta. Chorei, lembrei-me de todos os que
me eram queridos.
E perante
tanta insistência das lágrimas recolhi ao camarote que me estava destinado e lá
continuei a “carpir” mágoas que só foram minimizadas com o “regresso” dos meus
colegas a quem me competia dar um sinal de “fortaleza” para minimizar a tristeza
que se apoderou em cada um de nós. Estava ali a começar uma aventura no
desconhecido, mas que todos sabíamos que haveria de ter um fim, mas não
sabíamos qual. Todos partimos com a ideia de regressar, não sabíamos como. Estávamos
a partir como tantos outros antes de nós, fomos na esperança de regressar,
infelizmente nem todos o fizeram. Voltei à realidade. Com dois ou três roncos, o navio
fez-se lentamente ao meio do Tejo e desceu para a foz. Cada vez eram mais
imperceptíveis os acenos no Cais da Rocha. (...)
Começava uma aventura que para muitos, tínhamos
consciência disso, não teria regresso……
Aproveito
para recordar os que “partiram” lá e todos os companheiros que nos têm
“abandonado” desta vida, obrigando-me a recordar com muita saudade aqueles que
Deus quis “desviar” dos nossos destinos
Aproveito para enviar a todos os ex.
Companheiros que lerem estas minhas “recordações” votos de muita saúde e
vamo-nos “vendo” por Aí
Com um enorme Abraço
Jaime Ramos
Sem comentários:
Enviar um comentário