segunda-feira, 16 de março de 2020

EMBARQUE

16 de Março de 1973
Embarque para a Guiné
Depois de um adiamento de alguns dias, chegou a hora do Embarque.
Os militares amontoavam-se nos locais mais improváveis na ânsia do ultimo aceno de despedida dos seus familiares (os que lá os tinham). Era uma cena já por todos conhecida, já que militares e famílias tinham vindo a acompanhar ao longo de anos  pela televisão e pelos jornais, “cenas “ do mesmo género.
No que me toca, e como não tinha ninguém a acompanhar, mais não fiz do que dar o lugar nas “filas” da frente aos que tinham essa possibilidade, retirei-me para a retaguarda, isolei-me intencionalmente e comecei a sentir o barco a inclinar com o peso de todos os que queriam estar na “borda”  a visualizar os Pais, as Esposas e muitos os Filhos e outros familiares que se juntaram para a despedida, sabia-se lá até quando e em que condições.
Os lenços a acenar e o barco a apitar que se apoderou de mim uma fria sensação de uma realidade de ida sem a certeza da volta. Chorei, lembrei-me de todos os que me eram queridos.
Perante tanta insistência das lágrimas recolhi ao camarote que me estava destinado e lá continuei a “carpir” mágoas que só foram minimizadas com o “regresso” dos meus colegas a quem me competia dar um sinal de “fortaleza” para minimizar a tristeza que se apoderou em cada um de nós. Estava ali a começar uma odisseia, uma aventura no desconhecido, mas que todos sabíamos que haveria de ter um fim que não sabíamos qual era. Afinal, estávamos a partir. E não tinham partido milhares de outros antes de mim ? Voltei à realidade. Com dois ou três roncos, o navio fez-se lentamente ao meio do Tejo e desceu para a foz. Cada vez eram mais imperceptíveis os acenos no Cais da Rocha. (...)
Começava uma aventura que para muitos, tínhamos consciência disso, poderia não ter regresso……
Aproveito para enviar a todos os ex. Companheiros que lerem estas minhas “recordações” votos de muita saúde e vamo-nos “vendo” por aí, e como nunca esqueço os AMIGOS, aproveito par relembrar os que “PARTIRAM”, desfalcando as nossas Tropas.

Arranjo do texto de Jaime Ramos


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