segunda-feira, 6 de abril de 2020

SOLDADO

Camaradas, estes tempos difíceis que todos vivemos, sobretudo porque pensamos no futuro dos nossos filhos e, sobretudo dos nossos netos, que, para nós a coisa acho que ainda vai dando, deram-me mais tempo livre e levaram-me a reflectir sobre o nosso passado, mas sobretudo sobre o que aí virá. Será que os poderosos irão aprender algo sobre aquilo que a pandemia nos ensina. Será que não vêem que mesmo sendo ricos não passam, no dizer do escritor napolitano António Scurati, de  «homens e mulheres adultos, contudo por cima das máscaras mostram o olhar assustado das crianças carenciadas». Acho que não, que não vamos aprender nada. Quando isto passar o Deus dinheiro, o consumismo, o querer parecer, voltará a toldar-nos a consciência. Mas a mãe Natureza não nos vai mandar muitos mais avisos.
Desculpem lá mas eu sempre fui uma pessoa inquieta e quando fui incorporado em Mafra, no dia 25 de Abril de 1972 (dois anos antes do outro 25 de Abril ) que, porventura, salvou a vida a muitos de nós pois, como sabemos, a guerra na Guiné estava militarmente perdida!) já era convictamente contra a Guerra Colonial. Contudo apesar disso não desertei, porquanto amava demais o meu País para o deixar, sem saber quando poderia voltar. E depois de Mafra fui dar, antes de ir para Tomar formar Batalhão convosco, uma recruta ao Curso de Sargentos Milicianos. E foi aí que, soldado à força, no dia 28 de Setembro de 1972, no RI -15, escrevi os versos que agora, com um grande abraço fraterno, partilho convosco, com a esperança de que vamos vencer mais esta batalha:

Soldado
Homem és feito nada,
Homem farda,
Sem direito a dizer não,
Carne p´ra canhão,
Servindo o imperialismo
E mais o cifrão.
Injectam-te ódio,
Iludem-te a razão,
Embarcam-te para além mar,
P´ra matar teu irmão.

Marques da Silva

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